A Associação Brasileira de Shiatsu e a Festa da Cerejeira em Friburgo (Hanami)
Reflexões sobre os desafios na organização para o evento
Arnaldo V. Carvalho
A ideia de escrever esse relato é compartilhar minhas reflexões, avaliações, erros e acertos em relação a esse pequeno projeto, e servir como ponto de partida para a Associação Brasileira de Shiatsu – ABRASHI – alçar voos maiores no futuro. Também pode ser interessante para que os voluntários do Shiatsu no Hanami compreendam melhor o que fizeram, a missão que cumpriram, e porque esse tipo de ação é importante. Por outro lado, mostrar que mesmo algo pequeno, pontual e simples pode dar muito trabalho, embora não pareça.
A ideia e preparação do evento
Estou sempre pensando em como estimular o voluntariado da ABRASHI, e fazer a associação deslanchar com seus projetos. Como amo a filosofia por trás do tradicional festival japonês “Hanami”, e levando em conta que uma nova diretoria acaba de ser constituída (e começar bem motiva, dá vontade de fazer mais), tive a ideia de conectar a época da floração das cerejeira no Brasil com uma campanha associativa. Após elaborar o projeto, orça-lo e encaminhar a diretoria, obtive aprovação e assim, carta branca para iniciar. A primeira coisa foi visitar o local onde o evento ocorreria, e verificar o interesse em nos ter como parceiros. Sendo bem sucedido, o projeto pôde seguir em frente.
Na ABRASHI é assim:
Membro encaminha projeto > Projeto é analisado e aprovado > Projeto é executado.
O veículo escolhido para nossa campanha foi o “financiamento coletivo” (crowd funding), porque permite uma campanha pela Internet onde todos poderiam colaborar com diferentes faixas de valor, usando para isso cartão de crédito, e receber como recompensa a própria anuidade, entre outras benesses. Escolhemos a Benfeitoria como site veículo para a campanha, pois como nós, eles são uma ONG, e achamos que poderiam nos entender e apoiar melhor.
A campanha
Iniciamos com uma série de postagens (blog e rede social), com quase um mês de antecedência (a primeira postagem sobre o tema foi o dia 24 de junho no site ABRASHI).
E quando a gente posta uma convocação de terapeutas, diz a eles que ganharão transporte, que será de graça para qualquer membro, que receberão certificado, e que ainda poderão estar em um evento que está completamente atrelado à mesma tradição japonesa de onde o Shiatsu surge, se inspira, se alimenta, então pensamos: “vai ser fácil, quem não quer?”. E não foi assim. Dar ok no Facebook as pessoas até dão. Mas fica por aí. O que há de errado? Faltava mais informação. Sobre tudo: o que é ABRASHI mesmo? Por que eu entraria nisso? E para que esse evento? Porque contribuir mesmo não sendo do Rio de Janeiro?
Acreditávamos esclarecer essas questões lançando rapidamente a campanha da Benfeitoria. Mas houve um atraso imenso, pois tivemos vários problemas para coloca-lo no ar. As exigências que antecedem o início de uma campanha são grandes, maior do que as previsões iniciais. Tivemos problemas na execução e edição do vídeo obrigatório, na familiarização e consolidação do sistema de recompensas, no modo como a Benfeitoria opera, etc. Assim, ela só pôde começar com uma semana para o evento. Manter a campanha viva, com novas postagens diárias, é também muito difícil. Pelo menos quando a coordenação do projeto fica toda por conta de uma só pessoa, que precisa ver do lanche e transporte dos voluntários a aquisição de equipamentos, passando por manter o contato com a organização do Hanami, fazer camisetas, etc., sendo que esse coordenador, que sou eu, trabalha, estuda e tem filhos. Simplesmente não tive quem dissesse: “ei que legal, como posso ajudar?”. No final, contei mesmo na parte prática com convocações caseiras: filha, esposa… rs. Tivemos, é claro, um grande, essencial, vital apoio dos voluntários para a ação prática. Os praticantes de Shiatsu foram todos fantásticos, muito mesmo. Mas esse foi um erro na gestão do projeto.
Eu precisava, antes da execução, já ter um corpo de voluntários para atuação nos bastidores do projeto. Busquei as pessoas para atuar no dia do evento, mas não para agir em seus bastidores.
Então fica uma lição:
Ao confeccionar um projeto, tenha em mente uma divisão mínima de tarefas, convide e confirme outros membros e voluntários. Não conte com próatividades espontâneas. São raras e não são suficientes para fazer acontecer.
De fato, os praticantes de Shiatsu, membros e não membros da ABRASHI ainda não estão maduros para compreender que fazer acontecer é um processo da ação coletiva. Também não entenderam (e ouço tanta reclamação sobre isso, tanta!) que, se quiserem um benefício direto profissional em participar, existe um que é simples, claro e real: se o Shiatsu se expande, o mercado se expande. Há mais demanda e quem está sem trabalho passa a ter algum, quem tem algum passa a ter bastante e quem já tinha movimento passa a trabalhar com satisfação plena. Então quando um trabalha pelo Shiatsu, está trabalhando para todos, todos os praticantes.
Mas isso só vem com insistência, e eu torço que a nova diretoria seja beeeemmm insistente nisso. É bom ver que eles tem pessoas de formações, escolas, origens, etc., distintas, o que aumenta a representatividade. Torço por eles.
Ao final da campanha, ficou claro que, entre as escolhas de recompensa que foram acertadas eram relacionadas a filiação ABRASHI (e por isso a grande maioria delas foi de R$80,00 e R$120,00).
O dia do Shiatsu no Hanami
Um dia antes já estávamos com tudo pronto: camisetas, certificados, transporte, equipamentos, lanche. Um detalhe importante quanto aos equipamentos: precisávamos de três cadeiras ao menos, desejávamos uma maca e uma possibilidade de trabalhar no chão. Desse modo, quem fosse ao evento poderia observar as três modalidades básicas de atendimento com Shiatsu (cadeira, maca, tatame ou “chão”). Conseguimos que os próprios voluntários que tinham tais equipamentos levassem emprestado. Porém, um deles não pode ir, e ficamos desfalcados. A lição aqui é: 1) Em eventos desse tipo, e sendo utilizado material emprestado por terceiros, é melhor sempre buscar uma quantidade maior do que a necessária, para prevenir imprevistos como esse; 2) A ABRASHI precisa constituir seu próprio equipamento o mais rápido possível.
Tivemos falha também em relação a horários: como a organização do Hanami nos passou que o evento começaria entre 11H e 11:30, organizei para chegarmos as 11H. Essa já era uma falha, precisávamos chegar pelo menos uma hora antes do previsto. Para piorar, dimensionei mal o horário de saída do Rio (ou melhor, de Niterói), e nos atrasamos. O atraso agravou-se de forma mais terrível devido ao intenso e inesperado congestionamento no caminho para o evento (situações que podíamos evitar se fôssemos realmente cedo).
Essa situação prejudicou muito a dinâmica que havia planejado para o grupo: reunião dos voluntários, explicar como atuaríamos coletivamente, resolver filiações e pendências, fazermos shiatsu rápido uns nos outros, e começar, deixando sempre cada um ter tempo livre inclusive para viver o hanami, para além de fazer o Shiatsu. Isso não foi possível devido ao horário, e atrapalhou um pouco no que chamo de “espírito de grupo”, embora com amor no coração todos tenham se esforçado para a atuação coletiva.
Outros desafios na coordenação surgiram, como por exemplo, o surgimento de um voluntários no evento que não era membro da ABRASHI, e não havia feito qualquer contato conosco, em qualquer convocatória (foi convidado por um dos voluntários). Quanto a isso creio que não ficou clara a convocação e objetivo da campanha: procurávamos pelo voluntariados de MEMBROS (que poderiam se filiar inclusive já com objetivo de participar – esse era um dos objetivos da campanha, como já dissemos acima. Como tratar a situação? Fato é que o voluntário era ótima pessoa e profissional, atuou muito bem e colaborou com tudo. Pudemos absorve-lo, fazer dele um dos nossos naquele dia. Mas e se ocorressem vários no perfil? Teríamos fracassado, porque não teríamos cumprido o objetivo de gerar filiação, teríamos que arcar com custos extras não dimensionados (como por exemplo as camisetas), entre outros.
Por sorte foi apenas um, era gente boa, amiga e esforçada. Então deu tudo certo. Mas fica aqui uma nova lição: ser bem claro durante a campanha, orientar os voluntários sobre suas próprias conduções em relação a uma ação ABRASHI, manter contato mais intenso com cada um dos voluntários. O membro voluntário que chamou o amigo era alguém consciente e prestativo, mas poderia ser uma contribuição “mirabolante”, ou seja um “presente de grego”. Então é preciso compreender que, se todos tiverem ideias que não compartilhem, e executarem ações fora do script, podem ao invés de ajudar (nesse caso, essa e outras iniciativas foram tremendamente bem vindas) podem atrapalhar. Em resumo: a comunicação é essencial.
Nenhuma das críticas apresentadas nessa análise (na verdade são todas dirigidas a minha própria pessoa enquanto coordenador de projeto) retiram de modo algum as conquistas obtidas com o evento. Novas amizades, um dia muito agradável, e todos os objetivos que foram cumpridos. Foi tudo muito bom e isso foi mérito de cada um dos voluntários, que foram, repito, todos maravilhosos, e com quem desejo rever e estar em muitas outras vezes mais, em todo tipo de ação pró-vida como as que a ABRASHI promove.
Acredito que o Shiatsu no Hanami foi um ponta-pé inicial para ações mais engajadas da parte da ABRASHI, e que em especial ela inspire ao associativismo, e permita que a associação possa de fato atuar em prol da sociedade através do Shiatsu.
Um abraço a todos,
força para a ABRASHI sempre!